domingo, 14 de novembro de 2010

Aroma de Limão


 Calça e coca-cola
Uma bela manhã chuvosa, não consigo me recordar bem, eu estava vestida com uma camisa pólo marinho e uma calça jeans normal. Sentia-me cansada, de tudo talvez, e resolvi despir-me. Tirei a calça delicadamente e a joguei no chão, junto à blusa, fui à cozinha e peguei uma lata de coca na geladeira, voltei. Um buraco preto estava no lugar da calça. Arrisquei entrar, porém ao tentar voltar, fui sugada por um enorme fluxo de vento e desmaiei.
O fantasma da criança
Acordei perdida e senti uma sensação estranha passar pelo meu corpo. Uma mistura quente e fria, molhada e seca, dolorida e suave, que passou quando levantei e decidi abrir os olhos. Estava tudo escuro, estava encarando o meu pior medo, o meu fantasma. Não me contive e comecei a berrar desesperadamente assim como uma criança no escuro. A esmo, tudo ficou claro e eu me encontrava em uma sala branca, sozinha.
Contos da vivência
As paredes brancas logo se tornaram transparentes e logo comecei a ver minha vida presente através delas. Eu bati inúmeras vezes nas paredes para tentar rompê-las e conseguir voltar para meu mundo, que continuava a girar, sem perdão do tempo que eu desperdiçava encarcerada.
Consegui ver meu amor seguindo em frente por pensar que eu havia morrido, ver meus pais sofrerem com as faltas de notícias, meu lugar no trabalho ser ocupado por outro...
Sentia-me cada vez menos útil e aquilo sim era doloroso. Você perceber que não é necessitado para mais nada do que antes fazia, de que a vida conseguía fluir normalmente sem você no caminho, que a natureza se adaptara bem sem você. Não pude continuar aquilo, era difícil e inaceitável ver que eu continuava presa e parada a algo que não mais me pertencia. Tentei suicidar-me por diversas vezes, todavia eu era impedida por algo oculto.
Não foi o fim do mundo
As primeiras semanas foram terríveis, olhar para tudo que era seu, conscientemente, e ver tudo se esvairar,mudar. Porém com o tempo aprendi a lidar comigo mesma e percebi que eu era minha própria inimiga. Aprendi também que a solidão é boa, só que as pessoas não dão o valor correto que ela tanto merece.
Caviar
No momento em que aprendi a “lição mais importante”, desmaiei e subitamente acordei em um novo lugar, uma nova sala. Vestia um excêntrico vestido e estava sentada à mesa saboreando caviar, meu prato predileto. Senti que aquela seria minha última refeição. Um aroma acre e suave de limão começou a invadir minhas narinas, gritos por todos os lados, meu corpo caído no chão, uma sensação de estar mais leve, rápida passagem da vida que não fora, porém era a minha, minha morte.